quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sobre deuses e redes

Lendo o livro do profeta Habacuque, chamou-me a atenção uma das figuras de linguagem usadas  para mostrar a  inconformidade e indignação do profeta com relação aos babilônicos, que em breve assolariam a sua nação, levando-a ao cativeiro (já tivemos a oportunidade de falar sobre o drama e os dilemas do profeta Habacuque em postagem anterior - veja aqui). 

Habacuque compara os babilônicos à pescadores com anzóis certeiros e ameaçadoras redes e os judeus a peixes prontos para serem capturados sem direito a defesa.  O profeta então pondera: "e por essa razão eles (os babilônicos) oferecem sacrifício às suas redes e queimam incenso em sua honra, pois, graças às suas redes, vivem em grande conforto e desfrutam iguarias" . (Hc 1.16). A figura usada pelo profeta é semelhante ao comentário feito pelo próprio Deus alguns versículos anteriores, quando diz que os babilônicos tinham por deus a sua própria (Hc 1.11 - NVI)

Logicamente o profeta não está dizendo que os babilônicos ofereciam sacrifícios e levantavam altares à redes de pescaria, mas quer mostrar que davam uma conotação religiosa a sua força militar, que na época os transformou em uma potência mundial. Os babilônicos se esqueciam que seu sucesso dependia muito mais da fraqueza dos povos conquistados do que de sua própria força (lembre-se de que em menos de um século os babilônicos caíram, quando apareceram dois impérios que aliados tornaram-se mais fortes: os medo-persas). 

Aí mora a grande deficiência do prepotente: esquecer-se que sua força depende da fraqueza de outro, e, nesse esquecimento transformar os instrumentos com os quais oprime e destrói em espécies de deuses, intocáveis e inegociáveis. 

Os profetas do Antigo Testamento anunciavam que o poder de Deus não estava baseado na opressão e nas ferramentas da injustiça, por isso, sua adoração requeria um compromisso com a prática do bem. 

No capítulo seguinte de Habacuque, Deus mostra a Habacuque a efemeridade do poderio babilônico: chegaria o dia em que os fracos dominados se revoltariam e se fortaleceriam, tornando em nada seu força. 

Que não haja em nossos corações o desejo de adquirirmos poder e influência às custas de alguém que está sendo oprimido, nos esquecendo que o verdadeiro Deus não tem compromisso com a prática da injustiça. Nossas redes nada são quando comparadas com aquele com criou todo o mar.

Abraço a todos e todas!


2 comentários:

  1. Excelente reflexão! Sempre é bom pontuar essas questões, pois é fácil tomar o caminho da arrogância.

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    1. Como disse Thomas Huxley: “A Bíblia tem sido a carta magna dos pobres e oprimidos. A raça humana não está em condições de dispensá-la.”

      Abraços Max.

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