terça-feira, 25 de junho de 2013

Sobre as manifestações populares das últimas semanas

Tentar escrever a história no calor dos acontecimentos é um desafio. O historiador, ao falar do passado tem a vantagem de já conhecer, a priori, os resultados (ou pelo menos parte dos resultados) da ação dos homens a longo prazo. Neste sentido, o distanciamento do tempo a se estudar facilita seu trabalho.
Ainda há muito a se falar sobre os eventos que têm acontecido no país nas últimas semanas, com a participação de multidões nas ruas das principais cidades do país em protestos múltiplos.
No dia 17 de junho, auge das manifestações, quando o esplanada do Congresso Nacional foi tomada pelos manifestantes fiz o seguinte comentário no Facebook:

O constrangimento pelo qual alguns programas de televisão passaram nos últimas dias (eram contrários às manifestações populares e em determinado momento se viram obrigados a concordarem - o caso do Datena mudando de opinião ao vivo é um exemplo evidente) desmistifica a crença do senso comum de que o povo não pensa, é alienado, é controlado pela mídia... Embora isto possa ser verdade em muitos casos, a realidade da última semana mostra o contrário. Os grandes veículos de comunicação se deram conta de que não são os detentores da verdade. Neste sentido, as redes sociais abriram espaço para a apresentação de um outro ponto de vista, vislumbrado diariamente pela maior parte da população, mas que, por razões diversas, não encontrava seu devido espaço, abrindo espaço assim para a versão dos grandes veículos de comunicação. Assim, acredito que a onda de protestos que toma conta do país serve de referencial para refletirmos sobre o funcionamento de nossa sociedade, em especial sobre a forma como construímos a realidade e a interpretamos.

Naquele momento o que me chamava a atenção era ver a mídia sendo pega de surpresa diante dos rumos de um movimento que nasceu da indignação com relação ao aumento da passagem de ônibus e que passou a agregar diversas outras demandas (entre elas inclusive protestos contra os grandes veículos de comunicação).

No entanto, em três dias percebi que a situação mudou, e a forma como a mídia apresentava o movimento também. No dia 21 de junho escrevi:


Há três dias atrás fiz um comentário aqui sobre a consciência política do povo e o consequente reposicionamento da grande mídia em relação às manifestações. Também disse que estava curioso para saber o que aconteceria depois que o governo decidiu abaixar a passagem do ônibus em SP. Percebo que o movimento tomou múltiplas faces, caminhando desde uma consciência política sóbria e coerente com o papel que deve ser exercido tanto pelo governo quanto pelo povo em um sistema político democrático, como o nosso, mas percebo também o discurso vago dos que protestam sem mais saber o porquê, propondo, por exemplo o retorno da ditadura (pasmem!), ou mesmo o impeachment da presidente (não creio que a conjuntura social e política de nosso país esteja exigindo uma atitude como esta). Também acho estranho a forma como a Rede Globo tratou as manifestações ontem a noite, parece haver um objetivo de dirigir a massa inconsciente em determinado sentido (lendo algumas opiniões aqui no Face hoje, me lembrei do que aconteceu na Venezuela em 2001). De qualquer forma, o importante é não deixar que o calor das emoções de ver mais de 100 cidades brasileiras envolvidas em protesto, roubem nossa capacidade de agir e pensar conscientemente e com coerência, sob pena de vermos uma parte significativa da multidão se transformar em massa de manobra.


Passados mais três dias, penso que ainda não é possível fazer um balanço do movimento: por um lado temos o governo  anunciando uma reforma política, por outro vemos os  que procuram tirar proveito político-eleitoral do movimento (direcionando-o apenas para a conta do governo federal), por outro, temos a perspectiva da mídia que soube adaptar seu discurso aos diferentes momentos das manifestações, evitando assim "se queimar" junto aos manifestantes.

Creio que ainda há muito para se pensar, já que a análise da realidade não é uma tarefa simples e está impregnada de lógicas firmadas em diferentes ideologias e visões de mundo, o que pode garantir inclusive, diferentes leituras do mesmo momento histórico. Portanto, aguardemos e acompanhemos o desenrolar da situação de nosso país nos próximos dias.

Abraço a todos e todas.

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