sábado, 29 de dezembro de 2012

Malaquias: a sacralidade da família (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

"Dízimo". Eis a primeira palavra que vem a mente quando pensamos no livro de Malaquias. De fato, Ml 3.10 tornou-se um texto amplamente conhecido e exaustivamente repetido (por vezes de forma descontextualizada) em púlpitos de todo o país. No entanto, o conhecimento de Ml 3.10 é proporcional ao desconhecimento de outras igualmente importantes passagens do livro.

No livro de Malaquias, o último dos profetas menores e último também de nosso Antigo Testamento, na Bíblia Hebraica a ordem dos livros é outra, já estão superados os problemas de desânimo e falta de perspectiva do povo judeu recém saído do exílio, temas taxativamente abordados por Ageu e Zacarias.

Cabe aqui uma palavra sobre a identidade de Malaquias. O profeta pode ser um pregador anônimo, já que o nome Malaquias quer dizer "mensageiro". Tal teoria é reforçada pela falta de referências à família e à origem do profeta. No entanto, uma outra vertente entende que Malaquias é de fato o nome do mensageiro.

Na época de Malaquias (sendo ou não este o seu nome de fato) o templo já estava reconstruído e o sistema religioso  já tinha voltado a funcionar, inclusive com a realização dos sacrifícios descritos no livro de Levítico. Assim, com a solução do problema da idolatria (como comentamos na postagem anterior) e do difícil retorno à vida religiosa cotidiana, parece-nos que as constantes crises dos israelitas em seu relacionamento com Deus estavam por fim resolvidas.

Será?

Malaquias mostra que não. O livro começa com uma forte repreensão divina quanto à forma como estavam acontecendo os sacrifícios no templo. Não existia preocupação quanto à qualidade das ofertas. O culto tinha se transformado em mera rotina e os rituais eram realizados apenas para "cumprir tabela".

A corrupção reinante entre os sacerdotes é o tema do segundo capítulo. Ali também aparecem repreensões quanto a falta de importância demonstrada para com as relações familiares (tópico escolhido pela CPAD como tema para a aula de domingo) e ao sentimento de "superioridade espiritual" de Israel em relação a outros povos.

No capítulo 3 os sacerdotes são novamente questionados. O tema do dízimo aparece relacionado ao mal direcionamento das ofertas apresentadas no templo. Segundo a lei, os sacerdotes deveriam separar dez por cento do que recebiam para seu sustento como oferta ao Senhor (era o "dízimo do dízimo"),  no entanto não era o que estava acontecendo: as ofertas devidas não estavam chegando ao seu destino, mostrando mais uma vez o descaso dos sacerdotes para com o serviço do templo. Há quem chegasse a dizer: "É inútil servir a Deus" (Ml 3.14)


Assim, o livro de Malaquias aponta um sistema religioso baseado na mera formalidade, onde os verdadeiros objetivos do culto não eram alcançados (tema já abordado séculos antes por outros profetas, como Amós). Perceba aqui mais uma vez a atualidade das mensagens dos profetas menores.

No entanto, apesar dos pesares a esperança está presente.

Deus demonstra conhecer intimamente seus fiéis servos, o "remanescente fiel". Para estes, "nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas" (Ml 4.2)

O livro termina apontando para o futuro. Nos últimos versículos há referência ao "profeta Elias", mensageiro que, com qualidades semelhantes as de Elias, prepararia o coração do povo para o Dia do Senhor. Tal profecia cumpriria-se cerca de 400 anos depois na figura de João Batista, o precursor daquele que estabeleceria a justiça e disponibilizaria a salvação eterna a todos os povos: Jesus, o Cristo.

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