Como vimos na postagem anterior, uma das palavras-chaves para a compreensão do exemplo de humildade de Jesus é obediência. Foi por intermédio de sua obediência irrestrita ao Pai que Cristo se contrapôs à desobediência generalizada provocada pelo pecado no mundo. Cristo foi obediente até a morte, tornando-se o maior exemplo e inspiração para aqueles que lutam contra o pecado.
Na passagem de Fil 2.12-18 Paulo quer destacar o lugar da obediência no processo de salvação e para tanto faz duas declarações que a principio parecem se contradizer: primeiro diz que devemos "operar a nossa salvação" e depois diz que "Deus é quem opera em nós tanto o querer quanto o efetuar". Assim, pode aparecer a dúvida: quem opera a salvação? Deus ou nós mesmos?
Na realidade as duas expressões estão falando de partes diferentes do mesmo processo. Nossa salvação depende única e exclusivamente da obra de Cristo, já que não teríamos nada que pudéssemos oferecer a ele para "bancar" nossa salvação.
Esta afirmação me faz lembrar que em minha infância costumava ouvir o Pr. Samuel Bezerra (então pastor da Assembleia de Deus em Pindamonhangaba) quando vinha pregar nos Congressos de jovens de minha igreja. Todo ano antes de pregar ele cantava um hino de sua autoria, que dizia:
Eu sou sócio de Deus
Eu sou muito feliz
Nesta sociedade
Deus me aceitou
Ele me quis
Eu entrei com a fé
Que ele mesmo me deu
Nesta sociedade
Que felicidade
Quem lucra sou eu
Logicamente, o que estava por trás da letra não era a intenção de promover nos ouvintes o desejo de obter "vitórias financeiras" por parte de Deus, ou transformar nossa relação com ele em um contrato capitalista. Na realidade o hino quer mostrar que nossa salvação depende daquilo que Deus nos apresenta e daquilo que nós apresentamos para ele. No entanto, como não tínhamos nada para apresentar para ele, então, ele nos deu a fé. Ou seja, até mesmo o elemento que precisaríamos para nos tornarmos "seus sócios" é um presente dele para nós. Nesta sociedade, Deus é quem providenciou tudo, até mesmo os recursos para que pudéssemos chegar até ele!
Ótimo! Concluímos que é Deus quem opera o querer e o efetuar, pois até o desejo que temos de segui-lo dependeu da fé que ele gratuitamente nos deu. Como explicar então a outra parte do texto, "operai a vossa salvação"?
O que o texto quer mostrar é que a salvação não é apenas algo que vai acontecer quando chegarmos ao céu. A salvação começa quando conhecemos a Cristo, e do ponto de vista de Deus, começou antes mesmo da fundação do mundo (I Pd 1.20). Ou seja, não seremos salvos só quando chegarmos ao céu. Já somos salvos agora! E como salvos devemos externar através de nosso convívio diário o que significa ser salvo. Como traduz a NVI: "ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor" (Fl 2.12)
Como colocar a salvação em ação? Paulo explica: fazendo as coisas sem murmurações e contendas. Vale a pena lembrar aqui que os hebreus que saíram do Egito em direção a Canaã, colocaram tudo a perder por conta das murmurações, um forma de colocar em dúvida a maneira como Deus conduz as coisas, um passo apenas antes da incredulidade.
A chave para colocar a salvação em ação está no versículo 16: "retendo a palavra da vida". Note que o que Paulo está falando não é uma mera memorização de textos bíblicos, mas uma atitude de envolvimento completo com os princípios expressos através da vida e obra de Cristo e das Escrituras. É comprometimento total com a palavra da vida.
Só assim será possível alcançar o principal objetivo de Deus para nossas vidas: brilhar como astros no mundo (Fl 2.15). Brilhar aqui não tem nada a ver com fama ou projeção social, mas colocar a salvação em prática de tal forma que nossa ações apontem única e exclusivamente para Deus e sua graça salvadora. Significa brilhar para iluminar ainda mais o Evangelho, e não nos mesmos.
Que lutemos por isto!
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